Você remete NIKE a saúde? Cuidado!

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Quando era pequeno gostava muito de um desenho animado chamado Cavaleiros do Zodíaco. Contava a história de um grupo de guerreiros com poderes sobre-humanos, que lutavam contra as forças do mal, e defender a deusa Atena. Piadas à parte, o desenho era uma AULA sobre superação. Em todo episódio um personagem apanhava até beirar a morte, até que encontrava forças dentro de si para levantar e desferir um golpe fatal em seu inimigo. E com isso, o Bem vencia.

Em uma escala menor, é claro, reproduzimos essa mesma pedagogia de superação o tempo todo: “Vou acabar esse capítulo, nem que eu vire a noite!”, “vou pegar só mais um trabalhinho”, “dá para encaixar mais um curso, né?”.

Tenho a impressão que dentre os antigos deuses gregos, há um que nunca perdeu forças e ainda vive entre nós. Aliais, é cada vez mais idolatrado pela nossa cultura. Seu nome é Nice, ou para os íntimos, Niké, a deusa da vitória.

Diariamente cortejamos, com força, a “superação dos limites”, e detalhe, não necessariamente os próprios. Basta atingirmos alguma maioridade e iniciamos uma corrida em que devemos ser capazes de atravessar percursos gigantescos, repletos de obstáculos, no menor tempo possível (melhor ainda, em tempo recorde). E isso tudo APESAR das leias básicas da física, que dizem que um corpo só pode atravessar um longo percurso em pouquíssimo tempo, se estiver em alta velocidade. Seria mais fácil se tivéssemos nascido cavaleiros do zodíaco.

Talvez, essa corrida fosse mais agradável se nos comportássemos como um carro. Claro que possuímos inúmeras vantagens frente a um automóvel, mas existe uma característica no carro que, embora possamos reproduzi-la, temos a tendência de abandona-la. Quando o carro percebe o fim iminente de seu combustível, ele avisa e depois para. Nós fazemos diferente. Apesar dos avisos do nosso corpo, de SABERMOS quando estamos exaustos, de SABERMOS quando não temos tempo ou espaço para mais uma tarefa, ESCOLHEMOS continuar. E nem sempre porque precisamos, mas porque queremos dar conta! Queremos provar que conseguimos, a fim de mantermos nossa identidade de heróis de si mesmos intacta, mesmo que por mais poucos minutos. Um equívoco de nossa parte.

Deveríamos acompanhar de perto nossos sensores de vitalidade, pois uma vez que se esgotam, não necessariamente paramos, mas passamos a consumir a NÓS MESMOS. Consumimos nossa vida familiar, nossa saúde, nossa vida social… Incrível como mesmo nos dias de hoje, ainda cortejamos à deusa Niké.

A boa notícia é que a vida adulta nos dá a oportunidade de procurarmos novas formas de pensar. A superação de nossos limites é sempre um ato heroico, e é por isso que não deve ser realizada diariamente. Ao invés disso, podemos inverter a pedagogia de superar seus limites, em algo mais sábio. Em algo como RESPEITAR seus limites. Talvez não cheguemos em nosso destino com a mesma velocidade, mas certamente chegaremos inteiros.

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