Trabalhar Menos e Produzir Mais: Como Assim?
A impressão que temos é a de que o tempo está passando mais rápido, e por isto, temos que fazer tudo com mais pressa. O tempo médio de trabalho diário é de oito horas, e às vezes temos a impressão que não é suficiente.
Contrariando esta ideia aceita pela maioria das pessoas, o sociólogo italiano Domenico de Masi afirma que para ter vida mais equilibrada e feliz é necessário diminuir a carga de trabalho e incluir momentos de ócio interrompendo a rotina. Segundo ele, o futuro do trabalho na sociedade pós-industrial está marcado pela união entre estudo e lazer. Mais diz o seguinte em sua afirmação: “Existe um ócio alienante, que nos faz sentir vazios e inúteis. Mas existe também outro ócio, que nos faz sentir livres e que é necessário à produção de ideias, assim como as ideias são necessárias ao desenvolvimento da sociedade”.
A partir de estudos neurológicos conclui-se que fazer pausas durante a jornada de trabalho é fundamental, pois cria a oportunidade para o cérebro fazer conexões que estimulam o autoconhecimento e criatividade. Portanto, divagações deveriam ser aceitas nas empresas como um “recurso” para produzir com mais qualidade.
Como em nossa cultura ficar à toa por algum tempo é considerado errado quando não estamos exercendo alguma atividade, temos a sensação de estarmos perdendo tempo ou fazendo algo não apropriado. Não estamos acostumados a deixar a mente “vagar”.
Segundo Keynes, a jornada de trabalho deveria ser reduzida para 4 horas, pois de acordo com sua percepção, mesmo trabalhando 8 horas ou mais, só há em média 4 horas reais de produtividade. Essa teoria parece estranha, pois estamos habituados a nos ocupar todo o tempo. Grande parte dos trabalhadores bate o ponto e são advertidos quando são flagrados “à toa”.
De acordo com Domenico, mesmo que as empresas exijam bons resultados e alta produtividade, estas pausas seriam benéficas, pois no funcionamento do cérebro existem ciclos naturais de atenção e desatenção. Trabalhando menos, os profissionais teriam teoricamente mais tempo livres para “divagar” e serem mais criativos. Ter funcionários com ideias inovadoras seria interessante e produtivo para as empresas. Porém, o que acontece ainda é a pressão para gerar lucro, e neste caso, é preciso exigir do funcionário produção cada vez maior com cobranças contínuas.
Diante desse cenário, não raras vezes, percebemos o índice cada vez maior de colaboradores estressados precisando se afastar do trabalho com o objetivo de se refazer. Pelas estatísticas atuais o número de afastamento tem aumentado gradativamente. Portanto, podemos perceber que exigências em demasia promove improdutividade e não aumento dos lucros.
Segundo De Masi: “o ócio pode transformar-se em violência, neurose, vício e preguiça, mas pode também elevar-se para a arte, a criatividade e a liberdade. É no tempo livre que passamos a maior parte de nossos dias e é nele que devemos concentrar nossas potencialidades”.