E se você perdesse tudo amanha?

0

Uma vez em uma roda de amigos, conversávamos sobre o que faríamos se, de uma hora pra outra, perdêssemos tudo o que conquistamos profissionalmente.

Como REALMENTE nos sentiríamos?

Será que conseguiríamos levantar no dia seguinte com vontade de batalhar por algo novo?

O que falaríamos para aqueles que nos admiram?

Foi então que resolvi fazer um teste, e perguntei: “E se, secretamente, você sentisse vontade de morrer?” As respostas voaram com rapidez: “Jamais pensaria nisso!” ou “mandaria me internar!”.

Sempre acho curioso observar a reação das pessoas quando o tema é suicídio. Falar em alto e bom som sobre pessoas que tentam tirar a própria vida gera imediatamente uma reação velada de revolta.

Recentemente a mídia divulgou sobre uma doutoranda que “não aguentou a pressão”. Prazos e metas absurdas estão associadas a um enorme estresse, que em pessoas deprimidas podem funcionar como um gatilho para desistir. Assim como o desemprego e a falência.

E isso acontece tanto que alguns estudos apontam para um acompanhamento entre o índice de suicídio e as recessões econômicas de diversos países.

Atualmente, mais do que em qualquer momento em nossa história, o suicídio cresce. Estamos falando da segunda principal causa mundial de morte evitável em adultos jovens – superando a AIDS e até mesmo a violência! A única a frente é o acidente de trânsito, e que muitas vezes se encontra infiltrado de casos de suicídios silenciosos. Ou você achou que todo mundo que bate de frente com uma árvore dormiu no volante?

Mas por que alguém faria algo tão dramático contra si mesmo?

A resposta não é simples. Tentar contra a própria vida, envolve a fantasia de “acabar com todo o seu sofrimento”. E curiosamente não apenas para si. A pessoa nesse estado costuma sentir que é um fardo também para os outros. Só que frente a um estigma gigantesco, muitos se sentem incapazes de compartilhar a dor que estão experimentando.

Por mais incrível que pareça, é muito comum não saber que se está deprimido. E mais ainda não identificarmos essa condição no outro.

Escolhi falar desse tema ao atender um paciente que perdeu seu empreendimento de muitos anos nos últimos meses. Mas não porque ele tentou tirar a própria vida, mas pelo exemplo que deu para tantos amigos que sentavam aquele dia comigo. Ao primeiro sinal de que havia reduzido o prazer pelas atividades do dia a dia, e a um pensamento estranho de que queria desaparecer, não hesitou em pedir ajuda. Não foi necessário medica-lo, mas fomos acompanhando sua evolução de todas as maneiras cientificamente comprovadas. Meu paciente compreendeu que fracassar não faz dele um fracasso, e que sempre, sempre há novas possibilidades.

Particularmente não considero mérito algum “vencer” a depressão sem remédio. Há pessoas que precisam, há outros que não. Como acontece com pressão alta e diabetes. O mais difícil e exemplar não é NÃO precisar de ajuda, mas ASSUMIR que precisamos de uma. Eis aí o verdadeiro desafio.

Deixe um Comentário

Seu endereço de email não será publicado.